terça-feira, 7 de agosto de 2012


MISERICORDIA QUERO E NÃO SACRIFICIO.
"Rico em Misericórdia"
Diante dos seus conterrâneos, em Nazaré, Cristo expõe as palavras do profeta Isaías: «O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me ungiu e me enviou a anunciar a Boa Nova aos pobres, a proclamar a libertação aos cativos e o dom da vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos e a promulgar um ano de acolhimento por parte do Senhor».
Segundo o Evangelista Lucas, estas afirmações são a sua primeira declaração messiânica, à qual se seguem os fatos e as palavras conhecidos por intermédio do Evangelho. Mediante tais fatos e palavras, Cristo torna o Pai presente no meio dos homens.
É muito significativo que estes homens sejam, sobretudo os pobres, carecidos dos meios de subsistência, os que estão privados da liberdade, os cegos que não vêem a beleza da criação, os que vivem com a amargura no coração, ou então os que sofrem por causa da injustiça social e, por fim, os pecadores. Em relação a estes últimos, de modo especial, o Messias torna-se sinal particularmente legível de Deus que é amor, torna-se sinal do Pai. Do mesmo modo que os homens de então, também os homens do nosso tempo podem ver o Pai, neste sinal visível.
É igualmente significativo que, quando os mensageiros enviados por João Batista vieram ter com Jesus e lhe perguntaram — «Tu és Aquele que está para vir, ou temos que esperar outro?» — Ele, referindo-se ao mesmo testemunho com que havia inaugurado o seu ensino em Nazaré, lhes tenha respondido: «Ide contar a João o que vistes e ouvistes: os cegos vêem, os coxos andam, os leprosos ficam limpos, os surdos ouvem, os  mortos ressuscitam, aos pobres é anunciada a Boa-Nova»; e é ainda significativo que tenha depois concluído: “Bem-aventurado aquele que não se escandalizar a meu respeito”.
Jesus revelou, sobretudo com o seu estilo de vida e com as suas ações, como está presente o amor no mundo em que vivemos amor operante, amor que se dirige ao homem e abraça tudo quanto constitui a sua humanidade. Tal amor transparece especialmente no contacto com o sofrimento, injustiça e pobreza; no contacto com toda a «condição humana» histórica, que de vários modos manifesta as limitações e a fragilidade, tanto físicas como morais, do homem. Precisamente o modo e o âmbito em que se manifesta o amor são chamados na linguagem bíblica «misericórdia».
Cristo, portanto, revela Deus que é Pai, que é «amor», como se exprimiria São João na sua primeira carta. Revela Deus «Rico em misericórdia», como lemos em São Paulo. Esta verdade, mais do que tema de ensino, é realidade que Cristo nos tornou presente.
Tornar presente o Pai como amor e misericórdia, constitui na consciência do próprio Cristo, ponto fundamental do exercício da sua missão messiânica. Confirmam-no as palavras por Ele pronunciadas, primeiro na sinagoga de Nazaré e, depois, diante dos seus discípulos e dos enviados de João Batista.
Baseando-se neste modo de manifestar a presença de Deus, que é Pai, amor e misericórdia, Jesus faz da mesma misericórdia um dos principais temas da sua pregação. Como de costume, também neste ponto ensina antes de mais «em parábolas», porque exprimem melhor a própria essência das coisas. Basta recordar a parábola do filho pródigo, ou a parábola do bom samaritano ou ainda, por contraste, a do servo sem compaixão.
Numerosas são ainda as passagens do ensinamento de Cristo que manifestam o amor e misericórdia sob um aspecto sempre novo. Basta ter diante dos olhos o bom pastor que vai à busca da ovelha tresmalhada, ou a mulher que varre a casa à  procura da moeda perdida.
 O Evangelista que trata de modo particular o tema do ensino de Cristo é Lucas, cujo Evangelho mereceu ser chamado «o Evangelho da misericórdia». Quando se trata da pregação, levanta-se um problema de capital importância, no que diz respeito ao significado dos termos e ao conteúdo do conceito de «misericórdia» (em relação como conceito de «amor»). A reta compreensão desse conteúdo é a chave para se entender a própria realidade da misericórdia. E isto é o que para nós mais importa.
Antes de dedicar uma parte das nossas considerações a este assunto, ou seja, antes de estabelecer o significado das palavras e o conteúdo próprio do conceito de «misericórdia», devemos notar que Cristo, ao revelar o amor-misericórdia de Deus, exigia ao mesmo tempo dos homens que se deixassem guiar na própria vida pelo amor e pela misericórdia. Esta exigência faz parte da própria essência da mensagem messiânica e constitui a medula do «ethos» evangélico. O Mestre exprime isto mesmo, quer por meio do mandamento por Ele definido como «o primeiro e o maior», quer sob a forma de bênção, ao proclamar no Sermão da Montanha: «Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia».

Nenhum comentário: